quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

“A educação é uma reprodução ideológica”

A história nos mostrou que todos os sistemas políticos, sociais e econômicos estabelecido durante a trajetória do ser humano, descaracterizaram ou modificaram suas intervenções em todas as áreas institucionais do estado, inclusive na educação. Tomando de exemplo do sistema feudal, Ghiraldelli Junior (1957, p.15; ibid., p.16; ibid., p.17) fala do abandono da “teoria do homúnculo”, isto é, deixaram de acreditar que a criança seria um adulto em miniatura, e adotando a teoria humanista que acreditavam que a criança seria um ser livre, que os primeiros anos do homem, deveriam está em contato com a sua própria natureza humana. Mesmo assim, apresentam contradições, onde apenas a classe dominante tinha o privilégio da educação a serviço do Príncipe (o estado).
Com a introdução do mercantilismo e posteriormente com a concretização do sistema capitalista, esse sistema por sua vez cria seus próprios valores e suas atitudes éticas e ignorando quase tudo o que foi imposto pelo sistema anterior. O sistema capitalista enquanto sistema político, social e econômico vigente, estabeleceu suas visões e deliberou suas atitudes para a formação da sociedade burguesa.
Sua visão é adequar os seres humanos na ordem de mercado, reduzindo tudo em uma simples mercadoria, com a educação não é diferente. A sociedade burguesa exige da escola a preparação da criança, agora dotada de responsabilidades, para sua formação do trabalho e não na perspectiva de moldar um ser humano mais útil. Paulo Freire (2004, p.127) reforça criticando dizendo que “A grande força sobre que alicerçar-se a nova rebeldia é a ética universal do ser humano e não o do mercado, insensível a todo reclamo das gentes e apenas abertas à gulodice do lucro. É a ética da solidariedade humana.”
Com os avanços significantes desse sistema por natureza injusto, as contradições na educação ainda persistiram em alguns aspectos, os privilégios continuaram sendo para poucos. Evoluções aconteceram através de várias lutas de intelectuais que pensavam a educação como direito de todos e não privilégios de poucos, mas infelizmente a educação continua sendo vista como mercadoria, e isso estão intrínsecas nas mentes dos professores e alunos e todos que fazem parte da educação. Louis Althusser, em sua obra Aparelhos ideológicos de estado, escreveu sobre a escola:
Ela se encarrega das crianças de todas as classes sociais desde o maternal, e desde o maternal ela lhes inculca, durante anos, precisamente durante aqueles em que a criança é mais “vulnerável”, espremida entre o aparelho de estado familiar e o aparelho de estado escolar, os saberes contidos na ideologia dominante (o francês, o cálculo, a história natural, as ciências, a literatura), ou simplesmente a ideologia em estado puro (moral, educação cívica, filosofia). Por volta do 16º ano, uma enorme massa de crianças entra na “produção”: São os operários ou os pequenos camponeses. Outra parte da juventude escolarizável prossegue: e, seja como for, caminha para os cargos dos pequenos e médios quadros, empregados, funcionários pequenos e médios, pequenos burgueses de todo tipo. Uma última parcela chega ao final do percurso, seja para cair no semidesemprego intelectual, sejam para fornecer além dos “intelectuais do trabalhador coletivo”, os agentes da exploração (capitalistas, gerentes), os agentes da repressão (militares, policiais, políticos, administradores) e os profissionais da ideologia (padres de toda espécie, que em sua maioria são “leigos” convictos) (1985, p. 78).


Os profissionais da educação estão cada vez mais submissos e coniventes a esse sistema, não se reconhecendo com o papel político e social, entra no mesmo caminho e contribui inconscientemente. Paulo Freire (2004, p. 124) comenta: “Mais séria ainda é a possibilidade que temos de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e não a verdade distorcida.” Claro que alguns educadores ainda se mantêm resistentes, só que cada vez em números menores.
Com um dos piores fatos históricos ocorridos no Brasil, à ditadura militar foi imposta pelo próprio sistema capitalista, com medo de uma tentativa de ruptura, retirou disciplinas como filosofia, sociologia do currículo escolar para evitar que o povo pensasse. Isso contribuiu negativamente para a educação, como forma de retração para o povo brasileiro para poder manipulá-los facilmente.
Com o passar dos anos, isso se refletiu tão acentuadamente, que os educadores dos dias atuais não conseguem trabalhar de outra forma, a não ser, pela proposta pedagógica tradicionalista, os educadores que conseguem romper essa barreira, enfrenta uma enorme resistência até dos próprios pais dos alunos.
Com esse declínio da educação brasileira, o educador não consegue problematizar a educação perdendo sua atuação política e achando que suas ideias têm que ser neutras, sem precisar questionar a sociedade e problemas adquiridos pelo próprio sistema vigente.
O espaço escolar se torna em miniatura a sociedade por completa, se na sociedade burguesa se tem competição, exclusão, preconceitos e o individualismo, na escola não é diferente, refletindo de tal forma que até os profissionais da educação perpassam para os indivíduos em formação o que a sociedade determina. Paulo Freire (2004, p.124) reforça: “É que a ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou opacizar a realidade ao mesmo tempo em que nos torna míopes.”
Foram apartir de perguntas que iniciaram essas minhas visões em relação à educação, ainda com muitas indagações, termina perguntando: Onde o ser humano irá parar se continuarmos dessa forma? Será que a educação pode realmente transformar uma sociedade em busca de um ser humano melhor?
Acredito que um novo sistema político, social e econômico comprometido com a educação e, sobretudo com o ser humano, é que possa através de uma nova proposta pedagógica, recuperar a essência humana.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parceiro,

    sou internacionalista também, mora em salvador. E como você desejo que as ideias sejam perigosas novamente.
    Meu nome no facebook é Marcelo Reator. Quero saber qual o seu email ou facebook para poder trocar uma ideia.

    Provoquemos um reação em cadeia?

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